domingo, abril 13, 2014

Ilídio Lico. Um homem atormentado. Perseguido pelo passado. Ameaçado de banimento do futebol, acusado de tentar subornar um goleiro em 1999. 15 anos depois é presidente da Portuguesa. E disputará, aliviado, a Segunda Divisão do Brasileiro…

Publicado em 12/04/2014 às 13h59
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Blog Cosme Rimoli - Portal R7

 Ilídio Lico. Um homem atormentado. Perseguido pelo passado. Ameaçado de banimento do futebol, acusado de tentar subornar um goleiro em 1999. 15 anos depois é presidente da Portuguesa. E disputará, aliviado, a Segunda Divisão do Brasileiro...

Um homem atormentado.
Pressionado por todos os lados.
Que fez o que não queria apenas para se manter no cargo.
Com medo do próprio passado.
Esse é Ilídio Lico.
Ele sempre sonhou ser o presidente do clube.
Mas tinha medo que isso nunca se realizasse.
Ainda mais depois de um caso que muitos se esqueceram no Canindé.
Gravíssimo.
Ocorrido em 1998.
E que foi descoberto um ano depois.
De acordo com a Folha de São Paulo, uma tentativa de suborno.
O jornal garantiu que ele e o empresário Toninho Silva foram os responsáveis.
O objetivo classificar a Portuguesa na primeira fase do Paulista de 1998.
E escapar do rebaixamento.
Lico era vice de futebol.
Documentos publicados indicavam que ele e Toninho usariam R$ 130 mil.
Dariam essa quantia ao goleiro Nasser da Portuguesa Santista.
O jogador nem foi contatado.
A tentativa de suborno não se realizou por um motivo simples.
Os R$ 130 mil sumiram.
O jogo acabou 4 a 4, com Nasser tendo grande atuação.
Atuou muito bem, apesar de ter tomado quatro gols.
Mas a história vazou.
O departamento inteiro de futebol pediu demissão.
Até os diretores que controlavam a base.
Lico, Toninho Duque, Fernando Gomes, Manoel Barril...
Carlos Justino, Vitor Diniz, Marcos Lico (filho de Ilídio) e Ricardo Costa.
Vale a pena relembrar o chocante depoimento do goleiro Nasser.
Publicado no dia 23 de março de 1999.
Relata o encontro do jogador e o dirigente.
(...) A primeira coisa que ele perguntou foi quanto eu peguei na partida Portuguesa Santista e Lusa. Pensei em dar um soco nele e ir embora. Mas achei que ele deveria ter um bom motivo para perguntar aquilo e disse que nada disso tinha ocorrido. Ele continuou me acusando de ter pego o dinheiro, que ele tinha mandado para me comprar, porque se encontrava numa posição muito delicada, o time dele não poderia ir para o rebaixamento. Foi quando disse que mandou dinheiro para me comprar, não só eu, mas o Orlando Pereira (treinador da Portuguesa Santista).
(...)Ele fez acusações. Mas eu não tinha nada a ver com a sujeirada que eles armaram. Ele falou que estava desesperado e ficou me acusando. Aí perguntei: "Para quem você deu o dinheiro?". Ele respondeu que tinha dado para o Camões Salazar e para o Toninho Silva."

3reproducao6 Ilídio Lico. Um homem atormentado. Perseguido pelo passado. Ameaçado de banimento do futebol, acusado de tentar subornar um goleiro em 1999. 15 anos depois é presidente da Portuguesa. E disputará, aliviado, a Segunda Divisão do Brasileiro...

Depois de muita discussão entre eles, o inacreditável.
Nasser foi contratado pela Portuguesa.
Mas não jogou.
Nem treinou no clube.
Mas assinou seu contrato.
Disse que teve de brigar para receber.
Ganhou 50% do que teria direito.
Lico teria feito um pedido ao goleiro.
"Espero que esse assunto nunca venha à tona." Eu respondi, como já tinha dito várias vezes antes. "Se eu não for prejudicado, não vai à tona nunca. Mas, no momento que eu for prejudicado, o senhor pode ter certeza de que a verdade vai ser dita." Aí ele disse: ""Mas eu estou cumprindo tudo o que prometi. Estamos fazendo um acordo." Eu respondi: "No nosso combinado não estava nenhum acordo. Eu só fiz pela necessidade de cobrir os meus compromissos. Então eu já estou sendo prejudicado."
O depoimento foi feito ao repórter Marcelo Damato.
O dirigente foi ouvido.
"Minha vida é um livro aberto. Nada tenho a esconder. Agora, tem uns pilantras aí. Tem uns "171" (número do artigo sobre estelionato no Código Penal), conselheiros que vão ter que responder pelos atos que estão fazendo aqui na Lusa. Tem uns que o ex-presidente Heleno (Joaquim Alves) falou para mim que pegaram dinheiro. Andaram pegando dinheiro na concessão do Centro de Treinamento. Esses homens é que estão agitando. São pessoas que não deveriam estar na Lusa."
Tentou desviar o foco, mas não desmentiu Nasser.
Foi perguntado de forma direta sobre o que o goleiro falou.
"Eu vou te responder isso em outra oportunidade. Não tem nada contra mim. Não tenho problema pessoal. Estou muito tranquilo. Até foi um pedido do presidente (Amílcar Casado. na época) para que ele esclarecesse primeiro algumas dúvidas. Depois, faríamos um esclarecimento para vocês. Agora pode-se confundir as coisas."
Só que ficou por isso mesmo.
Não houve 'esclarecimentos'.
A Folha publicou a conclusão da investigação do COF da Lusa.
O documento era pesado.
Acusava Camões Salazar e Toninho Silva.
Eles teriam dividido os R$ 130 mil destinados ao suborno.
Não se consolidou a tentativa de fraude.
Foi um escândalo na época.
Houve até um processo criminal.
Ilídio foi ameaçado até de banimento do futebol pela FPF.
Mas o caso acabou arquivado, por falta de provas.
Não houve punição alguma.
Na época ninguém imaginaria que um dia assumiria a presidência do clube.
O tempo passou.
O futebol não tem memória.

1divulgacao Ilídio Lico. Um homem atormentado. Perseguido pelo passado. Ameaçado de banimento do futebol, acusado de tentar subornar um goleiro em 1999. 15 anos depois é presidente da Portuguesa. E disputará, aliviado, a Segunda Divisão do Brasileiro...

15 anos depois dessas terríveis acusações, ele comanda a Portuguesa.
E logo de cara se confrontou com uma enorme confusão.
Que vai muito além da estranha escalação de Héverton contra o Grêmio.
A terrível situação financeira do Canindé.
O time havia suado sangue para não ser rebaixado no campo.
Mas 12 minutos que o jogador suspenso esteve em campo custou caro.
O STJD mandou o clube para a Segunda Divisão.
Ilídio Lico não queria briga com a CBF e com a FPF.
Não desejava que a denúncia da Folha de tentativa de suborno voltasse à tona.
E tentou enrolar, perder o máximo de tempo possível.
Estimulou que os torcedores entrassem na Justiça Comum.
Quando na verdade ele não queria a Portuguesa na Série A.
Por um motivo muito simples e revelado pelo Ministério Público.
As dívidas enormes do clube com o Banif.
Os números poderiam atingir até R$ 600 milhões.
Empréstimos teriam sido feitos em nome do ex-presidente Manuel da Lupa.

2gazeta3 Ilídio Lico. Um homem atormentado. Perseguido pelo passado. Ameaçado de banimento do futebol, acusado de tentar subornar um goleiro em 1999. 15 anos depois é presidente da Portuguesa. E disputará, aliviado, a Segunda Divisão do Brasileiro...

Não só dele: da sua esposa e do vice Luiz Iauca.
O MP acusa que o trio de pedir dinheiro ao banco.
E repassar a dívida à Portuguesa.
Os acusados se defendem.
Dizem que estavam pegando de volta o que haviam colocado no clube.
A questão continua sendo investigada pelo Ministério Público.
Mas a verdade é que não há dinheiro no Canindé.
E Ilídio Lico sabia o melhor caminho.
Montar um time bem barato.
Disputar a Segunda Divisão, sem pressão.
Nem pensar na caríssima Série A.
Mas não poderia assumir isso.
Tanto que foi aconselhado por advogados.
Para travar a CBF, deveria entrar com uma ação no CAS.
Na Corte Arbitral da Fifa, na Suíça.
É a última instância esportiva antes da Justiça Comum.
Lico nem se deu ao trabalho.
Porque acreditou que conseguiria evitar uma briga direta com a CBF.
A maior desconfiança disso veio dos próprios conselheiros do clube.
Quando o presidente recebeu a proposta de Marin por escrito.
A CBF ofereceria empréstimos de R$ 4 milhões à Portuguesa.
Desde que o clube se comprometesse a não ir à Justiça Comum.
O oferecimento foi no inicio de janeiro.
Lico falou para alguns dirigentes de sua confiança.
Mas se calou para a imprensa.
Só se manifestou quando o documento vazou para a ESPN.

3reproducao1 Ilídio Lico. Um homem atormentado. Perseguido pelo passado. Ameaçado de banimento do futebol, acusado de tentar subornar um goleiro em 1999. 15 anos depois é presidente da Portuguesa. E disputará, aliviado, a Segunda Divisão do Brasileiro...

Foi passado por uma pessoa influente no clube à emissora com a intenção clara.
A de travar o presidente, não deixá-lo aceitar a proposta.
Diante da revelação, Ilídio teve de dar entrevistas.
E avisava: não aceitaria o dinheiro oferecido.
Porém, contraditório, recebeu um carro da FPF.
Foi um prêmio dado a todos os clubes que disputariam o Paulista.
Um Cruze Sedan LTZ 2014, avaliado em R$ 71 mil.
Marco Polo del Nero e José Maria Marin são mais unidos que xifópagos.
Seria um ato simbólico Lico recusar o automóvel.
Mas não só aceitou como posou para foto recebendo o veículo.
Imagem exigida por Marco Polo del Nero.
Muitos conselheiros da Portuguesa ficaram revoltados com Ilídio.
As ações dos torcedores foram cassadas por Carlo Miguel Aidar.
O candidato da situação do São Paulo e amigo íntimo de Marin.
O cerco se fechou.
Lico revelou que não iria expor a Portuguesa entrando na Justiça Comum.
Toda sua diretoria ameaçou abandonar o cargo.
Sozinho, percebeu que não havia saída.
E mandou que o professor de direito e advogado Daniel Neves agisse.
Entrasse na Justiça exigindo a permanência da Portuguesa na Série A.
Mas dois advogados esportivos famosos alertam 'em off'.
O momento escolhido foi, no mínimo, estranho.
De acordo com eles, esperariam a véspera do início da Série B.
O dia 17 seria ideal, já que a competição começa na sexta, 18.
Mas o clube entrou no dia 31 de março.
Houve tempo de sobra para a CBF cassar sua liminar.
Ficava claro, para esses advogados, que a Portuguesa não quis brigar.
Nem provocar de verdade Marin.
Assim, Ilídio Lico pôde anunciar ontem o que sempre quis.
O clube vai disputar a Série B.
O departamento jurídico da CBF afirma em tom de bravata.
A Conmebol e a Fifa querem punir o clube paulista.
Mas ninguém acredita nessa ameaça.
O final da história foi previsível.
Fluminense e Flamengo na Série A...
A Portuguesa?
Fará sua estreia contra o Joinville na Segunda Divisão...
Devidamente rebaixada...
Depois de ter conseguido se salvar em campo...
E Ilídio Lico firme na presidência do clube...
Torcendo para que ninguém lembre do caso Nasser...
Assim caminha o futebol brasileiro...

 Ilídio Lico. Um homem atormentado. Perseguido pelo passado. Ameaçado de banimento do futebol, acusado de tentar subornar um goleiro em 1999. 15 anos depois é presidente da Portuguesa. E disputará, aliviado, a Segunda Divisão do Brasileiro...

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